Entrega Final
Seguem os textos sobre o trabalho. O trabalho em si (em pdf e EPUB) foram anexados no Teams.
1.Introdução
Com o incentivo da matéria AIA, do curso de arquitetura e urbanismo da UFMG, ministrada pelos professores Ana Paula Baltazar, Eduardo Mascarenhas, Erica Azevedo e Sandro Canavezzi, foi desenvolvido esse trabalho e sua proposta de intervenção por nós alunos, Ana Júlia Thomaz, Andressa Lagares, Cecília Aguiar, Gabriel Cordeiro, João Matheus Lobato, Juliana Occhialini, Maria Vitória Crispim, Olivia Porto, Rafael Guimarães e Yohanna Prado. Neste projeto foi exigido a escolha de uma área, e dentro disso, um trecho, no qual a partir de análises, estudos, visitas, considerássemos um espaço de influência por causa de seus elementos físicos e culturais. A partir da escolha da área delimitada, e sua interação com o ambiente e as pessoas, foram feitas reflexões em grupo e de maneira individual, com o objetivo de obter análises abstratas e concretas que determinariam as sensações que o espaço escolhido despertava nas pessoas, e o que ele provocava nos grupos que o utilizavam de diferentes formas. Depois dos estudos propostos sobre como o espaço era convidativo, seu contexto urbano e sua influência individual e coletiva dos usuários, foi debatido sobre o que procurávamos promover nesse lugar a fim de permitir uma reflexão e interação maior com o ambiente. A partir dos objetivos escolhidos, nós alunos realizamos uma intervenção espacial com o propósito de realizá-los.
2. Contextualização
Para a análise, escolhemos o entorno da escadaria e do túnel que fazem a ligação entre a Rua Sapucaí e a Estação Central do metrô, que são influenciados no acesso permitido pelo Viaduto Santa Tereza e o Viaduto Floresta localizados no Hipercentro de Belo Horizonte. Assim, notamos a existência do curso d 'água do Ribeirão Arrudas que passa por debaixo da Avenida dos Andradas, via transitória situada em frente à estação. Após realizarmos algumas pesquisas, percebemos a importância desse rio suprimido da percepção visual urbana na tentativa de controlar os recursos naturais e atender aos ideais de desenvolvimento econômico.
O Ribeirão Arrudas pertence ao Rio das Velhas, o maior afluente da Bacia do Rio São Francisco localizado no Estado de Minas Gerais. Enquanto principal eixo hidrográfico da cidade de Belo Horizonte, o rio Arrudas comporta córregos afluentes que se encontram dentro do contexto urbano da capital influenciando o espaço, porém sendo invisibilizados através do processo de tamponamento. Esse cenário surge com a necessidade política de retificar os rios que perpassam pelo espaço com a intenção de solucionar os problemas relacionados à degradação que esses rios vêm sofrendo. Para além disso, o que se observa é a priorização da abertura de canais asfaltados largos que suportem o sistema viário, em função do aumento do número de automóveis que circulam pela cidade. Como consequência, o agravamento de enchentes e de agentes poluidores são vistos nos problemas causados à população e ao ambiente.
3- A Intervenção
Diante dessa análise, resolvemos produzir uma intervenção urbana no espaço da escadaria e do túnel que trouxesse a sensação imersiva de estar no rio Arrudas, por meio da promoção de sensações provocativas que causasse impacto nas pessoas que transitam pelo local no dia a dia. Para isso, através de elementos sonoros, visuais, plásticos e artísticos optamos por produzir uma experiência submersa durante a passagem.
A intervenção Arrudas parte de um percurso que se inicia na Rua Sapucaí, quando a pessoa chega pela parte de cima da escadaria. A partir desse momento começa a imersão. De forma gradual, se começa a ouvir o barulho de gotas de água no mesmo espaço em que há uma luneta interativa, a qual permite imergir o usuário, através de uma imagem panorâmica representativa, em tempos passados, quando o ria era saudável, preservado pela mata ciliar, com seu curso normal, sem a canalização. Limpo.
Ao atravessar essa área, e adentrar a escadaria da Sapucaí, gradualmente o processo de imersão se torna mais intenso. Durante a passagem, na parte sonora, há a mudança de sons do barulho de gotas, chuva, e, ao fim da escada, um som de rio. Já no contexto visual, destaca-se a presença de um grafite abstrato representando no topo da escadaria um rio limpo, puro, jovem, que, até chegar na base, gradualmente se torna um rio morto, degradado.
Após caminhar pela escada e entrar no túnel, chega-se à área de maior imersão. As luzes do túnel são recobertas por plásticos transparentes amassados, formando sombras similares às da água. O som do rio se intensifica e logo da entrada é possível ver quatro torneiras distribuídas pelo espaço, além de um desenho na parede da bacia hidrográfica feita de LED. A primeira torneira do lado direito irá acionar o som da caixa de som mais próxima e apagar a sequência de fita LED mais próxima, representando a morte de um pedaço do rio. Esse processo continua no decorrer do túnel onde a pessoa poderá ligar sons de descarga, obra, avenida e córrego, representativos das ações degradantes que ocorrem no rio,o despejo de esgoto, a canalização, o tamponamento.
Ao continuar o percurso até a parte central, o som estará mais alto e o rio representado nos dois lados, logo, será a zona mais imersiva. A partir desse momento, da mesma forma que houve uma imersão gradativa na entrada, existe outra na saída. Ao se afastar do centro do túnel, o som do rio diminui e ao sair se tem a mudança do som para o de chuva e, por fim, gotas, preparando os visitantes para o fim da intervenção.
A intervenção também pode ser vivenciada se iniciando pela estação. A pessoa passaria pela experiência também da gradação de som, mas encontraria a representação saudável somente no final do percurso e começaria com a sensação de ver o rio degradado.
4- Funcionamento
5 - Leitura Política e Imersão
A rua Sapucaí foi palco de mudança nos últimos 10 anos, e nesse processo passou de uma rua costumeira de um bairro residencial para um efervescente ponto cultural da cidade, sendo conhecida atualmente como um mirante de arte urbana. A partir dessas mudanças, e posteriormente do impacto e participação da sociedade, é possível reconhecer o local como propício para manifestações.
A intervenção permite a leitura política do conflito entre a existência do rio e da cidade. O curso d 'água aparece nesse cenário de urbanização como elemento excluído da paisagem e enclausurado nas ruas e avenidas da cidade a partir de uma visão estrategista econômica que reconhece o recurso natural como barreira ao desenvolvimento da cidade. Por isso, a partir desse projeto, buscamos relembrar análises que passam despercebidas no cotidiano das pessoas que utilizam o espaço como um meio de passagem. Para isso, a intervenção é construída através do apontamento da negação vista em relação à presença do rio como essencial no encontro de redes coletivas de sociedade, fauna, flora e água. Tanto a escadaria da Sapucaí e o seu túnel, os quais foram palco de diversas intervenções devido ao seu potencial atrativo e de comunicação, junto ao rio Arrudas e toda sua história no que tange a sua ressignificação e tamponamento, são elementos da área escolhida que sofrem influências políticas, de maneira direta ou indireta, impactando a convivência das pessoas na cidade.
Com o objetivo de formar uma maior conexão entre a obra e o visitante, e dessa forma ter nossos objetivos potencializados, utilizamos a imersão como caminho. A gradação sonora e visual desenvolvida na intervenção permitiram a percepção do curso d 'água, agora invisivel a maior parte da população, e dos impactos que estão sendo causados com a sua obstrução. Ao invés do incentivo e efetivação de projeto de preservação e cuidado com as águas, o que se vê por parte das autoridades é um plano de rejeição à importância social e ambiental dos rios da cidade. Logo, através do incômodo de ruídos que aumentam e são mais fortes na parte central do túnel, local de maior imersão, é revelado o processo deteriorante do rio com o intuito de disponibilizar um momento de reflexão nesse espaço de ligação, assim, o percurso se encontra enquadrado no âmbito de provocação política.
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